Prepare-se para um inacreditável salto no desempenho das redes sem
fio. Dois grupos estão competindo para lançar equipamentos que são pelo
menos sete vezes mais rápidos que os atuais roteadores Gigabit
baseados no padrão 802.11ac.
Aproveitando uma faixa de frequência não licenciada de 60 GHz, estes
aparelhos serão capazes de oferecer largura de banda superior à de uma
conexão através de um cabo USB 3.0.
A disputa traz memórias da guerra entre o VHS e o Betamax (quem se
lembra?), com uma exceção: um dos lados já está oferecendo produtos há
mais de um ano, enquanto o outro não irá fazer isso até o ano que vem. E
embora as duas tecnologias possam coexistir, acredito que apenas uma
irá prevalecer.
O
WirelessHD Consortium, liderado pela fabricante de chips Silicon Image, é o grupo por trás dos produtos que já estão disponíveis hoje. A
Wireless Gigabit Alliance
(WiGig), liderada pelos fabricantes de chips Marvell e Wilocity, não
irá iniciar seu programa de certificação até 2014, embora isso não tenha
impedido um fabricante de lançar um aparelho WiGig não certificado.
Mas não se preocupe, você não acabou de gastar US$ 200 num roteador
“obsoleto”. Em seus estágios iniciais a tecnologia WiGig estará presente
apenas em redes ponto-a-ponto, como equipamentos para “streaming” de
conteúdo de um PC para uma TV HD, ou para conectar, sem fios, seu
notebook a uma docking station.
Qual lado irá prevalecer?
Apesar da considerável dianteira da equipe Wireless HD, acredito que a
longo prazo o WiGig irá vencer a batalha. Em primeiro lugar porque a
tecnologia é definida em um padrão do IEEE (Instituto de Engenheiros
Eletricistas e Eletrônicos, órgão dos EUA responsável pela definição dos
padrões para redes sem-fio), o 802.11ad. Muitos consumidores estão
familiarizados com os padrões de rede do IEEE porque tem experiência com
os mais antigos como o 802.11a, b, g, n e o novo ac, que será
ratificado no início de 2014.
Segundo, a WiGig Alliance recentemente se fundiu com a Wi-Fi
Alliance, um grupo responsável por garantir aos consumidores que
quaisquer equipamentos com o seu logo estampado serão capazes de
conversar entre si. Ou seja, é uma garantia de interoperabilidade mesmo
entre equipamentos de diferentes fabricantes.
Ainda assim é difícil ignorar o fato de que você pode comprar
produtos com a tecnologia WirelessHD (como o DVDO Air) hoje mesmo. Eles
são aparelhos ponto-a-ponto projetados para transferir sem fios conteúdo
em alta-definição de uma fonte (um player, PC ou console de videogame)
para uma tela.
O DVDO Air (acima) transmite sem fios imagens em alta-definição
de um Blu-Ray Player, videogame ou PC para uma TV
Já testei alguns deles e sei que funcionam: basta plugar a saída HDMI
de seu player de Blu-Ray em um transmissor WirelessHD, a entrada do
projetor a um receptor WirelessHD e você poderá transmitir vídeo do
player para o projetor sem precisar de um cabo HDMI de 10 metros
esticado pela sala. Infelizmente tanto o transmissor quanto o receptor
são grandes, e necessitam de sua própria fonte de alimentação. Pior
ainda, transmissor e receptor tem que estar na mesma sala.
60 GHz para viagem
Parece que a Silicon Image, que em 2011 adquiriu a SiBeam, pioneira
na tecnologia WirelessHD, será a primeira fabricante de chips a resolver
o problema do tamanho do transmissor, já que desenvolveu um novo chip
pequeno e com consumo baixo o suficiente para ser incorporado em
dispositivos móveis. A empresa alega que o transmissor UltraGig 6400 é
capaz de enviar vídeo 1080p com áudio em múltiplos canais a partir de um
tablet ou smartphone para uma TV ou projetor. Amostras do chip já estão
nas mãos de alguns fabricantes de aparelhos.
O novo chip também é compatível com receivers Wireless HD 1.1. Mas só
a Silicon Image o produz, e a maioria dos fabricantes de aparelhos é
relutante em incorporar componentes vindos de um único pequeno
fabricante (um único fabricante de grande porte como a Intel ou
Qualcomm, por exemplo, seria uma história diferente).
O primeiro produto WiGig
Enquanto isso a Dell foi a primeira empresa a lançar um produto
baseado na tecnologia WiGig, a Wireless Dock D5000 (US$ 250 nos EUA, ou
US$ 187 se adquirida junto com um computador), compatível com notebooks
equipados com uma interface WiGig Dell 1601. Entretanto, o Ultrabook
Latitude 6430u (que custa US$ 940, incluindo a interface WiGig) é a
única máquina no mercado que atende a este requisito.
De acordo com a Dell, a Dock oferece uma conexão wireless que é 10
vezes mais rápida que o Wi-Fi (802.11n)”, mas tal velocidade depende da
dock estar plugada à sua rede usando um cabo ethernet. Ela também pode
controlar duas telas adicionais (uma via HDMI e outra via DIsplayPort), e
tem três portas USB para um mouse, teclado e outros periféricos.
Ultrabook Dell Latitude 6430u e Docking Station Wireless
Dock D5000: os primeiros produtos WiGig no mercado
Mas antes que você fique muito empolgado com o potencial das redes de
60 GHz, deve estar ciente de seu calcanhar de Aquiles: alcance. Um
sinal na frequência de 60 GHz tem dificuldade em atravessar paredes. E a
essa frequência as moléculas de oxigênio do ar começam a absorver
energia eletromagnética. É por isso que os aparelhos já existentes, como
a dock da Dell e o DVDO Air) são projetados para serem usados na mesma
sala.
Tanto o consórcio WirelessHD quanto a aliança WiGig estão trabalhando
em algoritmos para transmissão direcional (beam forming) visando
“focar” o sinal e aliviar o problema com o alcance. Em vez de transmitir
o sinal indiscriminadamente em todas as direções, um transmissor capaz
de “beam forming” determina qual a posição do cliente no espaço ao seu
redor e concentra os sinais em um “feixe” estreito e focado diretamente
nele.
Combinando um transmissor com esta tecnologia e refletores montados
na paredes parece ser possível “rebater” um sinal de 60 GHz em um
caminho indireto, ao redor de paredes e outros obstáculos, para eliminar
o requisito de visão direta e aumentar o alcance do transmissor.
Roteadores tri-banda
Em um futuro não muito distante roteadores tri-banda (com rádios
operando nas frequências de 2.4 GHz, 5 GHz e 60 GHz) chegarão ao
mercado. Um deles, provavelmente combinado com o esquema de refletores
que mencionei anteriormente, por tornar possível a criação de redes de
60 GHz com múltiplos dispositivos. Se tais rádios serão baseados na
tecnologia WirelessHD ou WiGig ainda não é certo. Mas novamente, prevejo
que o WiGig irá vencer a disputa.